domingo, 21 de dezembro de 2008

O Destino...

Assumir total responsabilidade das consequências das nossas opções, em todas as áreas da nossa vida, pode ser algo difícil de fazer. É o destino, é a vida. É a minha sorte… ele não quis. Estas são algumas das citações mais frequentes mas será que a vida ou alguém é totalmente, ou em parte, responsável pelo sucesso ou insucesso das nossas escolhas? Estarão algumas ou mesmo todas as áreas da nossa vida entregues à boa vontade da vida, simplesmente à boa ou má sorte? Será o destino uma verdade absoluta? Será que existem coisas que não podemos evitar?
As questões levantadas, em resultado deste breve exercício de reflexão, são de facto pertinentes e nem sempre gerarão consenso. Todavia, acredito que, em certa medida, todos nós sofremos de uma certa tendência para atribuir a algo ou a alguém, grande parte, senão total, a responsabilidade do sucesso ou insucesso, resultante das nossas escolhas, da nossa boa ou má vida.
É de grande utilidade a frase, carregada de grande sabedoria, de Dhammapade “Nós somos aquilo o que pensamos. Tudo o que somos emerge com os nossos pensamentos.” Seguindo esta linha de raciocínio é possível concluir que tudo na nossa vida é resultado dos nossos pensamentos e, nessa perspectiva, somos os únicos e verdadeiros responsáveis pela nossa condição de vida.
Ao meditar sobre isto, dou comigo a pensar sobre a racionalidade deste ponto de vista. Será este um ponto de vista razoável? Seremos nós os verdadeiros responsáveis de tudo aquilo que nos acontece na vida? Aplica-se esta regra a todas as áreas da nossa vida?
Permito-me fazer um exercício de racionalização e análise, para evitar dominar-me pelo impulso, procurando dessa forma evitar conclusões precipitadas e desfasadas da razão. Lentamente, emerge à minha mente a minha conclusão: concordo com Dhammapade. Porém, ao assumir esta postura existe algo que fica, inevitavelmente, comprometido: o destino.
Ao concordar, possivelmente, estamos a dizer que o destino é algo em constante mudança, algo que se altera diariamente, fruto das nossas decisões e escolhas diárias. Poderemos até afirmar que o destino não existe. Que toda a responsabilidade sobre a nossa vida é exclusivamente nossa.
Porém, discordar poderá significar que todos e quaisquer esforços são infrutíferos e estar a imputar responsabilidades a alguém (ou a algo) a responsabilidade de nos complementar ou fazer felizes.
Em resumo, há algo incontornável, assumir qualquer uma destas posições acarreta sempre responsabilidades, que nem sempre poderemos querer assumir. Numa somos responsáveis por tudo, noutra somos responsáveis por nada. Todavia, daqui surge uma outra responsabilidade, que é inteiramente nossa: a liberdade de escolha. No meio poderá estar a virtude, mas também poderá estar a passividade e o conformismo ou a postura do burro no meio da ponte...

domingo, 14 de dezembro de 2008

O encontro

A hora do encontro está a chegar e eu vou-me preparar. Preparo o banho, escolho a fragância do gel de banho, desfaço a barba, aparo as unhas, escovo os dentes e finalmente tomo o banho.
De volta ao meu quarto, coloco música a gosto para alegrar a Alma e despertar o bem-estar. Missão seguinte: escolher as vestes para hoje. Estou leve, livre e feliz porque mais uma vez vou ao encontro...
Os minutos deslizam, já quase nada falta para se dar a partida. Quero chegar á hora marcada.
Faltam poucos segundos ,para a hora marcada, e eu já me encontro no lugar habitual. O dia está um pouco crespúlo, grossas gotas de chuva caem sobre o carro, ao fundo a água do rio desliza agitadamente e o som, desse movimento, hoje é mais acentuado. Sentado, rodeado pelo silêncio, aguardo a tua chegada, de sorriso estampado.
Já passa da hora marcada... Como habitualmente, alguns minutos depois da hora combinada, sinto a tua presença. Apresentas-te de barba por desfazer, dentes por escovar, unhas por aparar, banho por tomar...
Cabisbaixo, olhar triste, falas lentas e depressivas chegas-te junto de mim. Olho-te nos olhos. Enfrento a tristeza do teu olhar e começamos a falar. Queixas-te da vida, da falta de sorte, reclamas atenção, amor, carinho. Dizes nada compreender e que estás a sofrer.
Escuto com atenção todos os detalhes e simplesmente procuro ouvir. Apenas ouvir. Deixo-te desabafar.
O tempo passa, as tuas magoas esmorecem, sinto-te preparado para falar, para te fazer ouvir-me. Começo a falar. Falo-te em coragem, força, determinação, confiança e segurança. Deixo escapar um brilho no olhar. Reconheces-me o olhar e aos poucos começas a aceitar...
Os minutos passam, as meias horas aumentam e as horas chegam... Pouco a pouco és-me familiar. Reconheço-te pelo olhar... reconheço-te as dores...
A noite está a chegar e é hora de voltar. Trocamos um olhar e o reconhecimento acontece. Quem sou eu? Quem és tu? Eu sou tu e tu és eu...

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sentado na mesa do café...

Vejo a noite cair lentamente. Sentado na mesa d'um qualquer café deixo a mente vaguear...
Não sei muito mais no que estou a pensar... Sim, apetece-me pensar!
Pensar? Em quê? Porquê?
Deixo os pensamentos fluirem. Há memoria surge momentos. Momentos passados que mal recordo...
Recordo parte de mim, parte do que fui. Observo.
Observo... Analiso... Critico.
Quem fui? Quem sou? O que mudou?
Nada! Continuo o mesmo, apenas alguns critérios foram ajustados, uns alargados outros, porventura, apertados, todavia sem nunca deixar cair os principios, fundamentais, de quem sou.
Mas quem sou?
Sou alguém sentado na mesa do café a procurar saber quem foi e para onde vai.
Sou quem não sou e quem sempre fui mergulhado nesta ambiguidade determinado, a procura de mim mesmo...
A luz surge ao fim do tunel... a noite cai lentamente e daqui saio serenamente!
Até breve

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Mais uma para refeletir...


Desiderata

Caminha placidamente entre o ruído e a pressa. Lembra-te de que a paz pode residir no silêncio.
Sem renunciares a ti mesmo, esforça-te por seres amigo de todos.
Diz a tua verdade quietamente, claramente.
Escuta os outros, ainda que sejam torpes e ignorantes; cada um deles tem também uma vida que contar.
Evita os ruidosos e os agressivos, porque eles denigrem o espírito.
Se te comparares com os outros, podes converter-te num homem vão e amargurado: sempre haverá perto de ti alguém melhor ou pior do que tu.
Alegra-te tanto com as tuas realizações como com os teus projectos.
Ama o teu trabalho, mesmo que ele seja humilde; pois é o tesouro da tua vida.
Sê prudente nos teus negócios, porque no mundo abundam pessoas sem escrúpulos.
Mas que esta convicção não te impeça de reconhecer a virtude; há muitas pessoas que lutam por ideais formosos e, em toda a parte, a vida está cheia de heroísmo.
Sê tu mesmo. Sobretudo, não pretendas dissimular as tuas inclinações. Não sejas cínico no amor, porque quando aparecem a aridez e o desencanto no rosto, isso converte-se em algo tão perene como a erva.
Aceita com serenidade o cortejo dos anos, e renuncia sem reservas aos dons da juventude.
Fortalece o teu espírito, para que não te destruam desgraças inesperadas.
Mas não inventes falsos infortúnios.
Muitas vezes o medo é resultado da fadiga e da solidão.
Sem esqueceres uma justa disciplina, sê benigno para ti mesmo. Não és mais do que uma criatura no universo, mas não és menos que as árvores ou as estrelas: tens direito a estar aqui.
Vive em paz com Deus, seja como for que O imagines; entre os teus trabalhos e aspirações, mantém-te em paz com a tua alma, apesar da ruidosa confusão da vida.
Apesar das suas falsidades, das suas lutas penosas e dos sonhos arruinados, a Terra continua a ser bela.
Sê cuidadoso.
Luta por seres feliz.(Inscrição datada do ano de 1692. Foi encontrada numa sepultura, na velha igreja de S. Paulo de Baltimore - hoje já não se pensa que seja esta a origem, mas assim é mais bonito...)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ferido de morte

Não sei qual é o verdadeiro sentido da vida, mas sei qual era o sentido da minha. Um dia pensei ter encontrado o rumo, mas rapidamente perdi o norte. A dor que sinto é imensurável, jamais me senti assim. Pedem-me para lutar e, em silêncio, respondo: Para quê? Por quem? O golpe foi demasiado profundo, provavelmente fatal. A minha auto-estima, o meu orgulho, o meu ego está ferido de morte. Não estava preparado para perder. Mais uma vez não estava preparado para perder.
Tenho consciência que não é justo pedir-te que não sejas totalmente feliz ou que simplesmente deixes morrer a esperança, do retorno do teu amor do passado, a mesma que morreu em mim. Pedir-te que sejas infeliz ao meu lado apenas para me sentir feliz. Sei que não é justo, mas era isso que eu queria, apesar de desejar que sejas feliz, talvez por isso, sinto-me mal no meio desta ambivalência profunda. Por isso dói, mas ironicamente sinto algum prazer nesta dor. A dor que sinto dá sentido ao meu passado. Confirma que aquilo que sinto é verdadeiro e puro.
Todavia, como posso deixar de sentir dor se perdi aquilo que queria? Como posso deixar de estar triste se o meu sonho se foi? Como deixar de me sentir perdido se o meu rumo se foi? Como sorrir se a minha felicidade se foi?
Tudo isto confirma o meu arrependimento, dá sentido à minha culpa, por isso será justo, da parte das pessoas, pedirem-me para não ficar assim? E eu? Sim, e eu? Alguém sabe aquilo que estou a sentir? Alguém conhece o tamanho da minha dor? Não acredito.
Porém, pergunto-me será justo o que estou a fazer? Não sei. Provavelmente não. Todavia também não sei com quem estou a ser injusto. Contigo penso que não. Afinal de contas, não me tiraste nada, porque antes de te conhecer já nada tinha. Contigo apenas descobri e vivi o amor, o eterno amor. Aquele que não morre com o fim duma relação. Talvez seja por isso que estou triste. Conheci o paraíso e voltei ao meu mundo, aquele a que realmente pertenço: as trevas. Voltei ao mundo do sofrimento, ao mundo da dor, da dor que tal como o meu amor por ti, é imensurável. Voltei ao meu mundo.
Carrego um nó na garganta, um aperto no peito, uma dor na Alma, uma sensação de angústia e culpa permanente. Nada mais justo. Tudo isto é profundamente justo, uma vez que fui eu quem deitou tudo a perder. Agora estou simplesmente a sofrer as consequências, das minhas decisões e dos meus actos. Fui condenado à tristeza perpétua, sem direito a amnistias ou reduções de pena e, assim sendo, ficar num qualquer canto, numa qualquer esquina da vida, a cumprir a pena que me foi estipulada ou morrer é completamente indiferente, pois para mim porque já estou morto. Apenas me falta ser sepultado.
Tenho um desejo, desejo que me deixem estar só, num canto, distante de tudo de todos, onde não me sinto nem bem nem mal. Deixem-me estar sozinho, neste canto onde o nada e o tudo fazem sentido. Aqui posso estar longe, posso não fazer nada, posso não viver, aqui nada acaba porque nada existe. Posso recordar com saudade e tristeza, tudo aquilo que conheci. Aqui posso, simplesmente, desistir de caminhar porque nada mais me faz andar… aqui ninguém me dá razões para lutar, aqui ninguém me pede para viver, aqui ninguém me impede de morrer. Sou eu e só eu, sozinho, à procura de mim. Aqui talvez me tenha encontrado, descoberto o meu real valor: nenhum. Aqui não tenho que sair, pelo mundo, a bater de porta em porta, com uma lata velha mendigando amor, o eterno amor. Aqui sei que não o vou encontrar.
Aqui posso voltar a ser aquilo que sempre fui: ninguém. Aqui posso aguardar pacientemente o fim, por que, no fim tudo acaba bem e se porventura não acabar bem então não chegou ao fim. Sento-me e espero, espero que a morte me traga o fim, o fim que talvez me possa fazer sentir feliz, ou não, no entanto, a felicidade de estar noutro mundo.
Talvez no outro mundo possa não ser feliz, mas já nem isso importa, nada me importa. Como nada tenho nada é importante e isso faz toda a diferença. Dá sentido à falta de sentido que existe na minha vida. Dá vida à minha morte…
Aqui no lugar onde me encontro nada é tudo e tudo é nada. Aqui não existe o negro ou o colorido, aqui não existe o belo ou o malparecido, aqui não existe amor nem dor… aqui eu faço sentido porque nada existe e nada sou eu… aqui nada perco porque nada tenho.
No lugar onde me encontro, não me aborreço, não choro, nada faço, apenas espero o tempo passar. Não preciso de reagir. Não tenho que dizer sim, com os lábios, se o meu coração estiver a dizer não. Tudo aquilo que preciso dizer é: “seja feita a sua vontade”. Aqui aguento as consequências e as punições. Aqui sofro em silêncio. Aqui não sei de onde vim nem para onde vou. Aqui não sei onde estou… aqui a ferida poderá acabar por sarar, mas acabarei marcado para o resto da vida…que não tenho. Aceito a derrota e não tento transforma-la em vitória. Aqui sinto o amargo, a dor dos ferimentos, a indiferença dos amigos, a solidão, a dor da perda. Aqui digo a mim mesmo “lutei por algo, e não consegui. Perdi.”
Aqui não sou escravo dos meus sonhos nem livre nos meus pensamentos. Aqui nunca mais vou tentar tirar aos outros aquilo que não é meu… aqui Deus veio visitar-me, para me dizer “nada mais tenho para te dar”. Tentei dar-te o melhor que tinha, mas não te estava destinado. Nada tenho para te dizer, a tua dor é demasiado profunda e nada posso fazer. Deus sentou-se ao meu lado e disse: “Desiste filho. Nada mais podes fazer. Não existe mais caminho para percorrer. Chegaste ao fim. Senta-te e espera e volta a esperar, porque eu não tenho para onde te levar, até que alguém ou a morte te venha buscar”.
Aqui no lugar onde me encontro talvez só tu me possas vir buscar…

Quem sou eu...

Sou eu mesmo á procura de mim mesmo! Nem sempre cordial mas sempre autêntico, único, simples, determinado e fiel... aos meus principios....

Quem sou eu....!

Há muito tempo procuro dentro de mim a "verdade" sobre mim próprio... Por vezes dócil, por vezes duro, outras vezes compreensivo, outras vezes reactivo...

Na verdade há muito que tento compreender quem sou de onde vim e para onde vou...

Umas vezes sei tudo, outras vezes nada sei, a verdade é que sei apenas que sou eu na vida á procura de mim mesmo...